quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Meu primeiro conto: Papai Noel Raptado Pelos Gnomos do Mal


Papai Noel Raptado Pelos Gnomos do Mal

O Texto a seguir foi o primeiro texto narrativo de que me lembro ter escrito. Poderia digitá-lo, mas resolvi bater foto do original e postá-las. Erros ortográficos e gramaticais aos montes. Olhem o número da chamada e a série em que eu estava. Detalhe: eu concluí o Ensino Médio (antigo colegial) em 1999, portanto esse texto é de 1998. Como estamos em ritmo de Natal, resolvi postá-lo aqui, pois é sobre o Natal.


Simples, mas aí está! Clique na imagem para ampliá-la e poder ler.









                                                                                      










segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Olhos de Criança


Parafraseando Antoine de Saint-Exupéry, dedico este texto aos adultos, ou às crianças que um dia foram.


Olhos de Criança


                Lembro-me de uma vez o meu pai dizer, enquanto meu irmão e eu assistíamos a um desenho, que ele não conseguia ver nada naquilo que assistíamos.
               Fiquei durante boa parte de minha infância sem entender direito o que aquilo significava. Na verdade, entendi literalmente o que ele dissera, então eu pensava: como ele não vê? Será que a tela da tevê fica em branco, que os adultos não têm olhos para ver as imagens dos desenhos animados? Senti-me um super-herói com uma visão além do alcance. Eu, por ser uma criança, era privilegiado com lentes mágicas, pois podia ver nas coisas a magia que os adultos não viam. A partir daquele dia, toda vez que meu pai passava perto de mim, enquanto eu assistia a um desenho, eu pensava: só eu posso ver.
              Os anos foram passando e continuei assistindo a desenhos, no entanto o tempo diante das cores mágicas, que só meus olhos de criança podiam ver, foi ficando escasso. Fui, também, aos poucos, percebendo em outras programações algo tão interessante quanto os desenhos. Meu tempo era, portanto, divido entre desenhos e não-desenhos, entre ser criança e ser adulto: ser adolescente.
             Comecei a trabalhar e fiquei sem tempo.
           Percebi que não tinha mais as lentes mágicas de antes, pois não podia mais ver os desenhos. O tempo não é mais o mesmo quando passamos a controlá-lo nos ponteiros do relógio. O mundo não é mais o mesmo quando estamos sem as lentes mágicas que nos dão a visão além do alcance. Foi aí que compreendi o que meu pai queria dizer: o mundo não é eternamente a Terra do Nunca.
            Feliz é a criança que tem poderes para ver desenhos, pois há muitas que lhes são tomadas as lentes mágicas antes do tempo, e elas ficam de olhos nus sem poder assistir inocentemente ao mundo mágico da infância.



terça-feira, 21 de julho de 2015

Vida Ausente, Morte Presente


Em maio de 2010, participei de um concurso de poesia e de miniconto promovido pela UnG (Universidade Guarulhos), instituição na qual me formei em Letras. Participei com três textos, usando três pseudônimos diferentes. Utilizei dois poemas e um miniconto. Obtive com dois deles o quarto e o quinto lugar, e com o outro, o primeiro. Em relação aos poemas, muito me foi dito que eu desse preferência a textos modernos, com versos livres e estrofes com número de versos variados. Obedeci com um dos poemas, mas usei um soneto também e, com ele, obtive o primeiro lugar.


A seguir, eis o poema e o prêmio, que muito me alegrou: 


Vida Ausente, Morte Presente

Não quero viver essa morte em vida!
Quero morrer a vida há muito morta!
Quero abraçar a Sorte tão querida,
 Que gentilmente bate à minha porta.

Quero morrer a vida não vivida!
Essa vida tão morta não me importa.
Quero morrer a vida falecida:
A morte em vida, já é vida morta.

Quero-te, ó minha Amiga tão temida,
Cobiça que minh’ alma não comporta,
Morte em vida não pode ser vivida,
Quero a morte da vida há muito morta.

Anosa secretária, ó Sorte amiga,
Se a morte é vida, em teu peito me abriga.






segunda-feira, 6 de julho de 2015

O Cheiro da Leitura

O Cheiro da Leitura



Ainda lembro como se fosse agora. Era sempre por volta desse horário, quando o sol começava a se pôr. Minha mãe me chamava, e eu, que ainda contava os meus cinco anos, não hesitava, ia correndo. Ela se sentava sobre um batente de blocos enfileirados na horizontal, colocados cuidadosamente encostados a uma parede, que separava a nossa casa da do vizinho, na qual havia um belo quintal repleto de árvores diversas, em especial, um Pé de Laranja que ultrapassava o muro e nos presenteava com uma deliciosa sombra. Ela nunca esquecia o livro, pois esse era o motivo de ela me chamar para aquele local, onde as coisas eram mágicas, docemente mágicas. Eu me sentava ao lado dela e repousava a cabeça em seu colo. Ela me perguntava se eu estava preparado, e eu respondia que sim, sempre respondia que sim. Depois dessa parte quase que cerimoniosa, o livro era aberto, e uma bela história parecia saltar daquelas páginas.
Esse ritual foi seguido por algum tempo, talvez até por anos, mas eu não sabia o que realmente o tempo significava, tampouco agora que o faço valer dessa forma louca como todos fazem, inconscientemente, quando descobrirmos que um dia iremos morrer. Com o tempo, aqueles momentos preciosos deixaram de ocorrer diariamente. Eu crescia a cada dia, como qualquer criança saudável, com o diferencial de estar sendo alimentado pelo sabor enigmático da leitura e pelo cheiro verde de pomar que o vento trazia consigo do quintal do vizinho.
Um fato curioso sobre aqueles tempos é que minha mãe sempre levava o mesmo livro. Eu nunca parei para pensar como que podia haver tantas histórias dentro dele, mas isso não era importante para uma criança curiosa apenas em saber o que sua mãe leria. Cada dia havia uma bela e emocionante história. Confesso que algumas não eram tão boas, mas ela dava um jeito de ao menos deixá-las agradáveis de ouvir.
Toda vez que vejo a noite invadir o dia, dominando-o por completo, lembro-me daqueles dias incríveis. Às vezes, procuro um lugar tranquilo, e o silêncio parece trazer a voz dela, interpretando cada frase impressa naquelas páginas amareladas.
         Quando eu estava no colegial e já tinha o hábito de ler, podia eu mesmo escolher as histórias que me fariam companhia durante alguns dias, a ponto de me fazer sentir prenhe de cada personagem com quem me identificasse. Por alguns instantes, ou até mesmo por dias, eu podia sentir a alegria ou a aflição de cada uma delas. Sentia raiva de umas e compaixão por outras, de uma maneira tal que havia um quê de inexplicável.
         Minha mãe parou de ler. O que mais me chamou a atenção, durante muito tempo, foi que eu nunca a vi lendo para si nem sequer uma receita de bolo. Ela só o fazia para mim, exclusivamente para mim. Então descobri algo que me deixou triste e, ao mesmo tempo, emocionado; no entanto, não convém dizer, pois tudo se faz entender por si só. Fiquei calado. Chorei calado.
O tempo, implacável, continuou a passar, e minha mãe foi acometida por uma doença e perdeu a visão. Lembrando-me das leituras que ela fazia, resolvi retribuir o gesto e passei a ler para ela. Fiz isso por um bom tempo, e ela ficava quieta, parecendo respirar cada palavra que eu entoava.
Alguns anos após a doença que a deixou cega, enquanto eu arrumava algumas coisas dela, encontrei o livro que ela lia quando eu era pequeno. Reconheci-o pela capa. O título denunciava que da primeira até a última página havia apenas uma história e não várias como eu imaginara. Era, portanto, um romance. Isso confirmou o que eu já sabia e me deixou com um misto de sentimentos no peito. Havia muitas verdades nessa descoberta, mas a que mais me importava era o fato de esse gesto honroso de minha mãe ter-me feito tomar gosto pelo universo da leitura e, consequentemente, pela escrita. Finalmente eu poderia conhecer a verdadeira história contida naquele livro, mas eu queria compartilhá-la com a pessoa mais importante na minha vida: minha mãe. Num finalzinho de tarde, chamei-a para o mesmo local no qual ela leu durante minha infância. Contei-lhe qual era o livro que eu leria e percebi em seu semblante, numa expressão sutil, que ela sabia o que aquilo significava. E o significado não era apenas um gesto de gratidão de minha parte; era algo muito maior que isso; era uma forma de eu dizer que sabia de tudo e que ela não precisava se preocupar. Lembro-me de que nenhuma palavra foi dita a respeito disso. Prefiro que ainda seja assim, estimado leitor. E, embora eu tenha conhecimento da importância das palavras, faladas ou escritas, também sei quão grande é o significado de um silêncio.
         Passei dias para concluir a leitura, que era feita sempre no mesmo horário. Ao final da última frase, eu disse que era o fim. Minha mãe sorriu, e eu pude ler aquele sorriso. Ouvi um obrigado sair quase surdo por entre os lábios dela, mas eu disse que eu é que tinha de agradecer, e agradeci com um forte e afetuoso abraço.           
 Hoje, anos depois, minha mãe e tudo o que ela fez por mim estão somente na minha lembrança, dentro do meu peito e de alguns poemas que leio. Agora estou aqui sentado na mesma fileira de blocos, à sombra da laranjeira, escrevendo esse mundo mágico que vivi. Toda vez que sinto o cheiro vindo do quintal do vizinho, lembro-me daqueles dias e penso que esse é o cheiro da leitura. Escrever e colocar tudo aquilo que se sente num papel é mágico, e ler é mergulhar num mar em busca de um oceano de novidades.